por Wagner De Angelis
O 2º turno das eleições presidenciais deste ano acontecerá no dia 31 de outubro (domingo). Dois dos candidatos transpuseram a primeira fase: Dilma Rousseff, representando os oito anos de mandato petista à frente dos destinos do país; e, José Serra, oposição tucana, respaldado pelo seu consistente mandato como governador de São Paulo.
Com o presidente Lula a tiracolo, descaradamente dedicado em tempo integral a fazer sua sucessora, em um procedimento político nunca visto antes nos embates político-partidários do país, Dilma disparou nas pesquisas e posou de eleita no 1º turno. Por sorte, não levou! As boas propostas de José Serra valeram-lhe uma expressiva votação e, graças também ao bom desempenho eleitoral de Marina Silva (PV), a eleição presidencial será decidida em 2º turno. E este fato, sim, é relevante, permitindo que o povo discuta e entenda melhor as diferenças entre os dois principais oponentes.
Agora, Serra pode virar o jogo. Todavia, novamente tenho ouvido e lido alguns argumentos para não se votar em José Serra, argumentos mais das vezes ilógicos, inconsistentes, simplistas e até enganosos. Por isso, com base na minha experiência política e na minha visão acadêmica, resolvi apontar os dez argumentos para não se votar na Dilma - em nome da democracia, do desenvolvimento social e da cidadania -, que sintetizo a seguir:
1. O princípio da alternância do poder
A alternância no poder é princípio básico da democracia, que implica num cívico basta à continuidade dos mesmos no controle do poder. Depois de 8 anos de Lula, talvez seja melhor ficar com José Serra, do que eleger a “afilhada” do ex-sindicalista que alcançou a presidência, graças ao Estado Democrático de Direito que todos temos o dever de assegurar, renovar e ampliar. Até porque a falta de rotatividade na presidência da república (entre situação e oposição) é um desvio fatal para a autocracia ou a ‘democradura’ - uma tentação que pode subir à cabeça de qualquer governante, seja pós-graduado ou operário de parcas letras. E o mundo está cheio de exemplos dos malefícios que podem causar os governos personalistas e defensores do "pensamento único"!
E mais, a alternância de poder não se aplica apenas a um chefe político em particular (no caso, Lula), mas ao continuísmo de seus projetos e de sua equipe, pois perpetua uma mesma elite política no governo central, privilegia o casuismo, e impede a correção de erros e excessos do caciquismo partidário dominante.
2. A inexistência de fronteiras ideológicas (esquerda x direita)
A divisão ideológica do mundo entre comunistas, socialistas e capitalistas não tem mais razão de ser. A idéia de “guerra fria”, ao tempo do confronto político e ideológico das então potências hegemônicas (EUA x URSS), é hoje página virada na história, desde a queda do Muro de Berlim (1989) e a dissolução da URSS (1991). Os raros países que ostentam ainda uma bandeira socialista já mesclam suas metas e objetivos com posturas capitalistas, em meio às precariedades e percalços do próprio sistema.
No Brasil, com em outros países, o complexo (e deficiente) sistema político exige que os vários partidos se reúnam em coligações que lhes garantam maioria parlamentar, sem a qual o país se torna ingovernável. A candidatura de Dilma tem o apoio do PT, PMDB, PDT e alguns pequenos partidos da velha esquerda, com a presença de políticos que serviram à ditadura militar e/ou estão marcados pelo estigma do coronelismo, da corrupção ou abuso de poder econômico, como Sarney, Collor, Renan Calheiros, Ronaldo Lessa, Romero Jucá e Carlos Henrique Amorim (Gaguim), ou de apaniguados do próprio PT – denunciados por malversações de recursos públicos, práticas clientelistas e nepotismo -, como José Dirceu, José Genoíno, Antonio Palocci, Delúbio Soares ou Erenice Guerra. Por seu turno, José Serra tem o apoio de gente da direita reunida no PSDB, no DEM e no PTB, dentre outros partidos, onde se notam figuras ambíguas e criticáveis, como Roberto Jefferson, Jorge Bornhausen, ACM Netto, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Yeda Crusius ou Ronaldo Caiado.
Assim, como é possível o governo criticar a oposição pelo conservadorismo e/ou elitismo de alguns dos seus coligados, quando ele próprio não se encontra dissociado de políticos identificados com práticas inescrupulosas, demagógicas e/ou até perigosamente radicalizantes?
3. Dilma não possui experiência administrativa
De fato, Dilma não tem experiência em altos cargos, podendo comprometer a boa condução do país. Ter sido ministra de Lula, como parte de sua “entourage”, não lhe assegura competência autônoma para o exercício da presidência do país. Para a Chefia do Executivo Federal o candidato necessita ter provado sua capacidade em cargos anteriores, seja no plano estadual ou federal. A Dilma não tem ‘pedigree’ para exercer a presidência; se fosse conduzir uma prefeitura vá lá, mas presidente? Já Serra galgou os mais importantes postos na área municipal, estadual e federal, com destaque aos cargos de Prefeito da cidade de São Paulo e Governador do Estado de São Paulo, respectivamente, a maior cidade e o estado mais rico do Brasil.
4. Dilma foi terrorista, sim!
Dilma Rousseff pertenceu a organizações clandestinas de esquerda que adotavam métodos terroristas, como atentados a bomba e assaltos a bancos, e chegou a ficar três anos na prisão (1970-73), durante a fase mais aguda da ditadura militar no país. Assim como outros militantes acusados de crime político, Dilma foi anistia em 1979, portanto, não aceito tal acusação como um mal em si ou algo que inviabilize sua postulação política.
O problema não reside no fato dela ter sido terrorista, mas sim de ter sido irresponsável e mal sucedida em sua opção de meios. Assaltou bancos, seqüestrou pessoas, disseminou o pânico e causou danos irreversíveis, mas nunca tomou o poder. Agora, quer chegar ao cargo de presidente com uma proposta capitalista ditada pelo FMI, quando não conseguiu derrubar o governo da época com uma proposta socialista avalizada pela extinta URSS. Quem agiu mal em boa parte da vida terá competência para gerir bem um dos mais promissores países do mundo? Covardia no passado; incoerência no presente!
5. Dilma não terá autonomia para governar
Dilma não terá autonomia para governar o país, pois terá de se sujeitar a três fortes e inevitáveis influências: a) a das políticas-metas do FMI; b) a das imposições pessoais de Lula; c) a das exigências fisiológicas do PT. Enfim, será uma marionete nas mãos desse trio, sem contar que deverá ainda atender aos banqueiros, que hoje mamam nas tetas do governo. E fica no ar uma pergunta que não quer calar: com Dilma, quem de fato governará o Brasil?
6. Dilma não é bem vista no exterior
Dilma se eleita não será bem recebida pelos EUA e pelos demais países do G-8 (os mais ricos do mundo), porque tais países desconfiam que ela não irá governar de forma democrática e muito menos que irá moralizar a coisa pública, seja porque o G-8 jamais foi simpático ao jeito ‘sindicalista’ de Lula governar, seja porque já se preocupa com um futuro jeito ‘porra louca’ de Dilma na presidência. Se o Brasil pretende consolidar-se como um forte ator ativo e articulado no contexto das relações internacionais precisa ter à frente um estadista acreditado e acima de qualquer suspeita, dados que não constam no perfil da candidata do PT.
7. O PT e a Dilma apóiam a revolução armada na América
O PT apóia a proposta de Hugo Chávez de criar uma América Socialista, sem a participação dos EUA e do Canadá, através de governos de força que invistam na revolução continental, começando pelo apoio massivo ao MST no Brasil, às FARC na Colômbia, e ao movimento neozapatista do povo Chiapa no México.
Aliás, foi em nome dessa esdrúxula identificação ideológica que o Governo Lula não defendeu de forma eficaz os interesses brasileiros (públicos e privados), quando de nacionalizações de empresas brasileiras na Venezuela e na Bolívia. Dilma com certeza seguirá nessa linha em visível prejuízo da soberania nacional.
8. As coisas boas do governo Lula foram criadas por FHC
A política econômica no Brasil, naquilo que está dando certo, não é invenção do Lula, mas nasceu com Fernando Henrique Cardoso , quando ainda Ministro da Fazenda de Itamar Franco, e consolidou-se nos 8 anos de bom governo federal de FHC. Lula só seguiu a “cartilha” tucana e investiu dinheiro alto na mídia para aparecer como “salvador da pátria”. Na verdade, Lula só conseguiu Ibope político porque deu continuidade ao governo tucano. E o que fará Dilma de diferente?
9. Não é na diferença de gênero que reside a solução para o Brasil
Dilma não pode ser eleita sob o argumento simplista de que o Brasil terá assim, pela primeira vez, uma mulher na presidência. Ora, o Brasil também não teve nenhum índio, nenhum negro, nenhum gay assumido, nenhum nipônico, nenhum portador de deficiência física no comando do Executivo Federal. Qual é a vantagem de ter uma mulher na presidência, por mais reconhecidas que sejam as experiências femininas na política e outros setores de atuação? Não estamos diante de uma “competição de gênero”, estamos diante de um pleito que levará um dos candidatos ao mais importante cargo nacional, e isso exige reflexão sobre fins e meios, entre o ontem e o amanhã, entre teoria e prática, e não sobre qual é o sexo do pretendente ao cargo!
10. Dilma não é garantia de justiça social e ética política
Pelo seu passado e por seus laços atuais com setores polêmicos do PT, Dilma não inspira confiança de que governará com isenção e justiça o país, pois é tendenciosa desde sua opção pelo terrorismo de esquerda, tendo ao longo de sua recente passagem pelo governo federal demonstrado que é cobra mandada do grupo do José Dirceu, Genoíno e outros ex-presos políticos. Ou seja, fará o que for do interesse desse grupelho, e jamais governará em função do bem-comum da maioria do povo brasileiro. Assim como Maquiavel, Dilma age usando de qualquer meio, mesmo que isso signifique compactuar com a corrupção e a opressão aos direitos humanos. Tal qual fez Lula dando apoio a ditadores como Ahmadinejad no Irã, Mugabe do Zimbábue e Kadhafi na Líbia, Dilma na presidência por certo ampliará as alianças petistas com governos repressores, pois os partidários da esquerda brasileira – tal qual a candidata - são os que mais praticam a tese de que “os fins justificam os meios”.
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* Wagner De Angelis é historiador, jurista e cientista político; especialista em “Cooperação Transnacional”, pela Universidade do Porto / Portugal, e especialista em “Citizenship and Public Policy” (Políticas Públicas e Cidadania) pela Kettering Foundation and Miami University, Dayton/Ohio – USA; além de professor universitário com várias obras publicadas [ E-mail: wagner.rdangelis@hotmail.com ]